segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Palavras ao vento.

Gostaria de compartilhar esta fábula (possivelmente bíblica), que ouvi quando criança. É uma destas coisas que ficam marcadas na memória, não se é capaz de lembrar a ocasião (ou sequer o nome de seu interlocutor), mas fica a idéia. Que possa marcar, também, a sua memória:

̶  Durante certo desentendimento com um amigo, o critiquei na frente de outros colegas  ̶  confessa um jovem.  ̶  Mas já pedi seu perdão, e fui desculpado.
̶  Muito bem, se desculpar é um grande passo  ̶  conforta o padre.  ̶  Mas, como penitência, gostaria que trouxesse um travesseiro de penas à igreja amanhã.
̶  Um travesseiro?!  ̶  pergunta o garoto, confuso.  ̶  Mas o que posso fazer com um travesseiro na igreja?
̶  Quero que suba na torre, aguarde o soprar do vento, rasgue o travesseiro e deixe que suas penas acompanhem a brisa. Em seguida, busque todas as penas e as traga para mim...
̶  Mas isso é impossível! Nunca vou conseguir recuperar todas as penas!  ̶  diz o jovem, ainda mais assustado.
̶  Pois, assim são suas palavras, meu jovem. Ainda que tenha se desculpado com seu amigo, suas palavras, ainda agora, fluem de boca em boca. E, dificilmente, você poderá corrigir o que foi dito, já que é improvável que descubra quantas vezes suas palavras foram ouvidas e repetidas. Dessa forma, espero que esse exercício sirva para que seja mais atento para o poder que suas palavras podem ter...

Não por acaso, a civilização tolteca já pregava a impecabilidade da palavra como o principal (e o mais difícil) de quatro compromissos na construção do seu sonho pessoal do céu. É um pouco do que tento transmitir em "O meu son(h)eto". O poder da palavra é muito maior do que pode parecer. O que torna o silêncio igualmente poderoso...

Enfim, fica uma pergunta: Que palavras você espalha aos ventos?