Sucesso: êxito, resultado feliz. A busca do homem por sucesso como um objetivo de vida seria, então, perfeitamente razoável, mas, acima de tudo, completamente subjetiva. No entanto, a definição corrente para esse termo tão almejado é tristemente corrompida e vendida (e pior: comprada) por toda uma sociedade, onde, com precisão, Kafka percebe que mesmo as crianças já fazem parte do Tribunal insensato do mundo.
É ainda mais assustador que, mesmo entre a elite intelectual brasileira, a idéia geral de sucesso seja tão limitada. Como pode ser tão difícil perceber que tal conceito, quando relacionado a fama e ao dinheiro, destina todos (ou, pelo menos, a grande maioria) ao fracasso? A própria definição de riqueza é relativa, e, assim, se todos são ricos, são todos pobres. E, da mesma forma, a fama de uma maioria é mesmo que seu anonimato. Logo, Sêneca pode concluir muito melhor que eu: "Ora, nada nos enreda em maiores males do que o fato de agirmos conforme a voz comum. Julgamos ser melhor o que é aprovado pelo consenso geral, e, assim, vivemos a imitação dos inúmeros exemplos que se nos apresentam, e não conforme a razão. Daí provém esse amontoado de homens caindo uns sobre os outros".
E, mesmo aos que acabam chegando lá, a grande verdade é que a riqueza e a fama, muitas vezes, mais aprisionam que libertam, como vem sido pregado por Augusto Cury. E, talvez, seja mesmo necessário que se busque vender (e comprar) novos sonhos, afinal: "Onde está a felicidade que o sistema prometeu para os que atingem o pódio do capitalismo? Onde está a tranquilidade para aqueles que acumularam riquezas?". Enfim, Raul Seixas pode, também, nos servir de testemunha: no auge de seu sucesso (ou seria apenas fama?!), e, depois de tantas dificuldades, ele relatava: "Porque foi tão fácil conseguir E agora eu me pergunto e daí?".
Dessa forma, fica suspeito que esse seja um comportamento como o já registrado por Nietzsche: "Muitos são os obstinados no que se refere ao caminho que tomaram; poucos, no que se refere ao objetivo". Ou, como ouvi certa vez de uma gerente de projetos: "Tudo isso é uma simples confusão entre objetivos e metas!". Assim, parece ficar mais claro: o que o homem busca é a felicidade (ou esse sucesso), e o dinheiro e a fama seriam, no máximo, metas (ou marcos) na perseguição desse objetivo maior. A grande questão é, enfim: será que isso está tão claro na vida contemporânea?
Ainda, pode ser plausível que um dos motivos para tal desvio seja consequência inevitável da evolução humana, e, certamente, o é. Talvez, um fruto da essência egoísta da vida humana, como acreditava Schopenhauer, ou mesmo da sua crença do prazer: "só existe prazer no uso e no sentimento das próprias forças". E como sentir essa força senão comparando a si mesmo com o próximo? Mas, como foi visto, essa comparação sempre há de agradar apenas a uma minoria, já que não existe um melhor sem um pior... Em conclusão, Schopenhauer também acreditava que o homem era guiado essencialmente pela Vontade, e não pela Razão. Mas já não será o tempo de deixarmos essa Vontade (ou instinto) um pouco de lado e nos pautarmos um pouco mais pela razão? Ou de nos guiarmos um pouco segundo a ação coletiva e o equilíbrio de Nash?
Bem, diante de tantos questionamentos, posso responder a um: sim, eu sou sucesso. E é bem mais fácil do que possa parecer. E, afinal: não seria uma das coisas mais belas da vida justamente esse caráter único da personalidade humana?
"Mas já não será o tempo de deixarmos essa Vontade (ou instinto) um pouco de lado e nos pautarmos um pouco mais pela razão?"
ResponderExcluirO que seria, portanto, essa razão? Não seria ela formada justamente pela relação entre os instintos coletivos, pela criação de uma coletividade de vontades individuais? Ou é o caso de pensarmos numa racionalidade subjetiva?
Até onde eu consigo enxergar (e, até por isso, uma outra pergunta seguiu a citada), a aplicação da razão nos leva à ação coletiva (como observado por Nash), e o que não exclui a individualidade.
ResponderExcluirQuanto aos instintos, acredito que, individual ou coletivamente, eles não mais nos são úteis como foram na evolução (de Darwin), já que o objetivo não mais é viver, mas ser feliz.
Schopenhauer é impressionante ao perceber isso: a dor, na verdade, é positiva, pois a dor é essencial na manutenção da vida (e da espécie) na história humana.
O que eu tento apontar é que, talvez, a dor não seja positiva, mas tenha sido (apenas no contexto da evolução). Da mesma forma, o instinto (que leva ao egoísmo, à proteção da vida individual) não mais nos é útil (ou tão útil), nos levando a razão...
Bem, não sei se ficou claro... hehehe
Belo texto Rômulo!!!agora entendo pq vc e o Rapha são tão amigos!
ResponderExcluirachei super interessante suas conexões!
meus parabéns continue assim refletindo sobre a condição humana...
abraços
já que é pra falar de pensadores vai mais um aí:
ResponderExcluir"Felicidade se dá quando o que falamos, o que pensamos e o que fazemos está em perfeita consonância" ...
Que preço pagamos para não sermos felizes nos moldes gandhianos?
O meu certamente é em morar em uma sociedade onde o econômico vem primeiro do que o social.
Vivemos em um 'viva" ao individualismo! (não, não tem nada de teor vdevingançiano nisso...ou tem)