segunda-feira, 19 de julho de 2010

Eu sou sucesso!

Sucesso: êxito, resultado feliz. A busca do homem por sucesso como um objetivo de vida seria, então, perfeitamente razoável, mas, acima de tudo, completamente subjetiva. No entanto, a definição corrente para esse termo tão almejado é tristemente corrompida e vendida (e pior: comprada) por toda uma sociedade, onde, com precisão, Kafka percebe que mesmo as crianças já fazem parte do Tribunal insensato do mundo.

É ainda mais assustador que, mesmo entre a elite intelectual brasileira, a idéia geral de sucesso seja tão limitada. Como pode ser tão difícil perceber que tal conceito, quando relacionado a fama e ao dinheiro, destina todos (ou, pelo menos, a grande maioria) ao fracasso? A própria definição de riqueza é relativa, e, assim, se todos são ricos, são todos pobres. E, da mesma forma, a fama de uma maioria é mesmo que seu anonimato. Logo, Sêneca pode concluir muito melhor que eu: "Ora, nada nos enreda em maiores males do que o fato de agirmos conforme a voz comum. Julgamos ser melhor o que é aprovado pelo consenso geral, e, assim, vivemos a imitação dos inúmeros exemplos que se nos apresentam, e não conforme a razão. Daí provém esse amontoado de homens caindo uns sobre os outros".

E, mesmo aos que acabam chegando lá, a grande verdade é que a riqueza e a fama, muitas vezes, mais aprisionam que libertam, como vem sido pregado por Augusto Cury. E, talvez, seja mesmo necessário que se busque vender (e comprar) novos sonhos, afinal: "Onde está a felicidade que o sistema prometeu para os que atingem o pódio do capitalismo? Onde está a tranquilidade para aqueles que acumularam riquezas?". Enfim, Raul Seixas pode, também, nos servir de testemunha: no auge de seu sucesso (ou seria apenas fama?!), e, depois de tantas dificuldades, ele relatava: "Porque foi tão fácil conseguir E agora eu me pergunto e daí?".

Dessa forma, fica suspeito que esse seja um comportamento como o já registrado por Nietzsche: "Muitos são os obstinados no que se refere ao caminho que tomaram; poucos, no que se refere ao objetivo". Ou, como ouvi certa vez de uma gerente de projetos: "Tudo isso é uma simples confusão entre objetivos e metas!". Assim, parece ficar mais claro: o que o homem busca é a felicidade (ou esse sucesso), e o dinheiro e a fama seriam, no máximo, metas (ou marcos) na perseguição desse objetivo maior. A grande questão é, enfim: será que isso está tão claro na vida contemporânea?

Ainda, pode ser plausível que um dos motivos para tal desvio seja consequência inevitável da evolução humana, e, certamente, o é. Talvez, um fruto da essência egoísta da vida humana, como acreditava Schopenhauer, ou mesmo da sua crença do prazer: "só existe prazer no uso e no sentimento das próprias forças". E como sentir essa força senão comparando a si mesmo com o próximo? Mas, como foi visto, essa comparação sempre há de agradar apenas a uma minoria, já que não existe um melhor sem um pior... Em conclusão, Schopenhauer também acreditava que o homem era guiado essencialmente pela Vontade, e não pela Razão. Mas já não será o tempo de deixarmos essa Vontade (ou instinto) um pouco de lado e nos pautarmos um pouco mais pela razão? Ou de nos guiarmos um pouco segundo a ação coletiva e o equilíbrio de Nash?

Bem, diante de tantos questionamentos, posso responder a um: sim, eu sou sucesso. E é bem mais fácil do que possa parecer. E, afinal: não seria uma das coisas mais belas da vida justamente esse caráter único da personalidade humana?

4 comentários:

  1. "Mas já não será o tempo de deixarmos essa Vontade (ou instinto) um pouco de lado e nos pautarmos um pouco mais pela razão?"
    O que seria, portanto, essa razão? Não seria ela formada justamente pela relação entre os instintos coletivos, pela criação de uma coletividade de vontades individuais? Ou é o caso de pensarmos numa racionalidade subjetiva?

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  2. Até onde eu consigo enxergar (e, até por isso, uma outra pergunta seguiu a citada), a aplicação da razão nos leva à ação coletiva (como observado por Nash), e o que não exclui a individualidade.

    Quanto aos instintos, acredito que, individual ou coletivamente, eles não mais nos são úteis como foram na evolução (de Darwin), já que o objetivo não mais é viver, mas ser feliz.

    Schopenhauer é impressionante ao perceber isso: a dor, na verdade, é positiva, pois a dor é essencial na manutenção da vida (e da espécie) na história humana.

    O que eu tento apontar é que, talvez, a dor não seja positiva, mas tenha sido (apenas no contexto da evolução). Da mesma forma, o instinto (que leva ao egoísmo, à proteção da vida individual) não mais nos é útil (ou tão útil), nos levando a razão...

    Bem, não sei se ficou claro... hehehe

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  3. Belo texto Rômulo!!!agora entendo pq vc e o Rapha são tão amigos!
    achei super interessante suas conexões!
    meus parabéns continue assim refletindo sobre a condição humana...
    abraços

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  4. já que é pra falar de pensadores vai mais um aí:
    "Felicidade se dá quando o que falamos, o que pensamos e o que fazemos está em perfeita consonância" ...

    Que preço pagamos para não sermos felizes nos moldes gandhianos?
    O meu certamente é em morar em uma sociedade onde o econômico vem primeiro do que o social.
    Vivemos em um 'viva" ao individualismo! (não, não tem nada de teor vdevingançiano nisso...ou tem)

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